sábado, 29 de novembro de 2008

Chico

O CONFIDENTE HUMILDE DA MORTEO
coletor debruça-se sobre os papéis que enchem sua mesa.Passam-se alguns minutos de silêncio e espera.Depois, timidamente uma cabeça, quase risonha, quase assustada, surge à porta.- Pronto, doutor...- Entre, Chico Xavier.Ele atende. Está agora à nossa frente, encostado à parede, evidentemente embaraçado diante daquela cara estranha e daqueles olhos curiosos.Não traz chapéu nem gravata e todo o seu traje é um atestado de pobreza.. Mas no físico, não na expressão. Esta é de estranha humildade e doçura. Com o sorriso leve que mostra agora, seu rosto tem até um ar de ingenuidade. Lá longe, na cidade grande, diriam dele:- “Um bobo !”Seu embaraço se acentua quando lhe pomos o olhar no casaco surrado, na camisa aberta, nas calças de brim remendadas, nos sapatos cambaios.- Desculpem ter eu vindo nestes trajes. Estava trabalhando.O coletor fala em “jornalistas”. Preferíamos que a apresentação não fosse tão pronta.Justificamos nossa presença ali: as mensagens divulgadas no Rio.Na confusão em que está, seu sorriso e suas frases se desdobram com intermitências bruscas, reticências sem malícia:- Ah ! Sim... Foi um senhor do Rio... Mas eu sou um pobre rapaz do mato... Não convém tanta notícia... Por favor deixem-me assim mesmo, na obscuridade...Observamo-lhe que a notícia, o assunto já está lançado no Rio. As mensagens estão sendo muito comentadas e discutidas.- Mas eu tenho receio... Os jornais falam, depois toda gente por aí se põe a discutir, não me deixam mais tranqüilo no meu canto... Além disso, depois, quererão de certo que eu faça cousas que não poderei fazer... o impossível...Por um momento, meditamos sobre essas palavras. Chico Xavier é bom psicólogo, também...Fama de faculdades extraordinárias?... Multidões à porta... Romarias de doentes e desesperados... Corpos em busca da cura, almas em busca de consolo...E até no mistério da morte ela vai procurar socorro e consolação para a vida...

Chico

O fracasso do pescador
Com a vida totalmente dedicada à divulgação doutrinária e à caridade, alguns amigos, pensando em distrai-lo, resolveram convidá-lo para uma pescaria. O convite, a princípio, foi educadamente rejeitado, mas devido à insistência, não podendo mais sustentar a recusa por não querer magoá-los, acabou por aceitá-lo.Era uma bela manhã, lá foi o Chico demonstrar suas ocultas qualidades de grande pescador. Acocorado no barranco do rio, ao lado dos amigos que já faziam grande sucesso pelo número de peixes fisgados, depois de muitas horas sem ter pego um lambarí sequer, o fato começou a despertar curiosidade, pois os peixes passavam rente à sua linha e nenhum mordia a isca: era um fenômeno estranho!Os amigos, não suportando mais aquela esquisita situação, resolveram interpelá-lo. Ele, por sua vez, satisfazendo a curiosidade geral, disse-lhes que aceitara o convite e, por isso, ali estava, mas não tinha colocado isca no anzol porque não pretendia incomodar os peixinhos...
Gotas de Luz - Julho, Agosto e Setembro de 1999